Hoje
é o dia dos Avós. Assim está escrito na
minha folhinha do Sagrado Coração de Jesus, que fica na parede da minha
cozinha, tal qual era na casa da minha avó.
Também há uma citação sobre a saudade.
Mas não foi da minha avó que me lembrei e senti saudade. Foi de um amigo que eu tive dos 16 aos 18
anos, mas que nunca mais vi. Seu
nome: René. Para não dizer que não mais o vi, encontrei-o
muitos anos depois, num daqueles
encontros, quando a gente se “esbarra” na rua e diz “Olá como vai? Eu vou indo e você tudo bem?”. E assim seguimos com ajuda dos versos do Paulinho
da Viola. Mesmo nessa época globalizada,
com tantas redes sociais e o Google, ainda não consegui encontrá-lo.
Eu
e René firmamos a nossa amizade num daqueles grupinhos de adolescentes que
ficavam reunidos nas ruas da zona sul do Rio de Janeiro, principalmente nas
férias de verão e festas, praia, cinema, em frente a algum prédio... Geralmente esse prédio era onde morava a
maioria da turma. Assim era na década de
70! Assim era lá no meu querido bairro do Flamengo.
Voltando
ao meu amigo René... Eu o conheci quando
tinha meus 16 anos e ele tinha 18. René
iniciava sua vida profissional num programa de
humor na TV Globo chamado Planeta dos Homens. Para quem não lembra, era um programa que, na
abertura, uma bailarina saia de dentro de uma banana descascada por um
macaco. Pois é, René fazia figuração e era
um figurante bem expressivo! Ele tinha
os olhos grandes e sabia como usá-los, fazendo aparecer mais do que os
outros. Seu pai, já falecido, foi um
humorista antigo, que tinha como amigo o Jô Soares, e este, em consideração,
arrumou esse “bico” para o filho. Eu
adorava quando o René me contava as
fofocas dos bastidores!
Meu
amigo era companheirão! Adorávamos andar
de bicicleta! E assim íamos do Flamengo à praia do Leme, pedalávamos pelas ruas
do bairro e, é claro, passeios bastante longos pelo nosso jardim: o parque do Flamengo. Num desses passeios, conseguimos burlar o
guarda que ficava na guarita da entrada para a ilha da escola Naval. Para isso, precisávamos cruzar a pista de
pouso e decolagem do aeroporto Santos Dumont.
Ao invés de prosseguirmos, resolvemos parar na pista e assistir aos
aviões chegarem e partirem. Deitamos na
cabeceira da pista, deixando as nossas bicicletas ao lado e ficamos
acompanhando, inocentemente, as decolagens.
Após
algum tempo, pressentimos que havia alguma coisa errada, pois os aviões pararam
de decolar. Levantamos e vimos uma Kombi
vindo em nossa direção. Ela parou ao nosso lado e de dentro dela saíram uns 6
homens. Aí a situação começou ficar
bastante tensa! Todos falavam ao mesmo
tempo e finalmente um deles se fez entender.
Eles eram da segurança do aeroporto e estavam ali para nos retirar do
local. Foi um discurso e tanto! Ele nos pregava o sermão e ao mesmo tempo nos
mostrava o perigo que nós passamos ao ficar ali deitados na cabeceira da
pista. O vento provocado pelo avião na
decolagem poderia ter nos arrastado para o mar, ou pior, para as pedras entre a
pista e o mar, ocasionando uma tragédia! Fora o tempo que o aeroporto ficou
parado desde quando detectaram a nossa presença.
Quando
eu conto essa história sempre digo que na minha juventude eu era moça de
“fechar aeroporto”!
E
o René? Nunca mais! Dois anos após este episódio, ele fez um
almoço (já morava sozinho) e então se declarou para mim. Como eu o queria apenas como um amigo muito
querido, aos poucos fui me afastando.
Mas
agora eu gostaria de saber: por onde
anda René?
Marluci Costa